sábado, 6 de julho de 2013

Morgan Freeman e a “Consciência Negra”


Estamos no último dia do mês de novembro e, nas últimas semanas, pudemos acompanhar os debates acerca do dia da “Consciência Negra”. Trata-se do dia 20 de novembro, data na qual são discutidos temas como o racismo e o papel dos negros na história e na sociedade brasileira.
Recentemente, o trecho de uma entrevista do ator norte-americano Morgan Freeman circulou nas redes sociais, especialmente no Facebook. No vídeo, quando questionado sobre o que acha do “Mês da Consciência Negra”, Freeman responde: “Ridículo”. Na sequência, o ator argumenta que não se deve confinar toda a história dos negros a um único mês e salienta que não há um “mês da consciência branca”. Por fim, ele afirma que, para se acabar com o racismo, é preciso parar de falar nele: “Eu vou parar de chamá-lo de branco… E o que eu lhe peço, é que pare de me chamar de… negro!”, ele disse.
Muitas pessoas que divulgaram esse trecho da entrevista de Morgan Freeman se limitaram a usá-lo como “argumento” para criticar a existência do “Mês da Consciência Negra”. Duas observações devem ser feitas aqui: em primeiro lugar, o vídeo foi tirado do seu contexto, e poucas pessoas se questionaram sobre a entrevista na íntegra e sobre o lugar de onde Freeman fala. Em segundo lugar, parte considerável dessas pessoas não percebeu algo importante: o que Freeman propõe não é pura e simplesmente um esquecimento do racismo, mas sim que as pessoas parem de ser identificadas pela cor da pele. No mundo idealizado por Morgan Freeman, a formação das identidades individuais e coletivas não deve ter a cor da pele como fator determinante.
Particularmente, eu adoraria viver nesse mundo proposto por Morgan Freeman, mas, infelizmente, eu não vivo. A minha sociedade é, sim, racista e penso que não devemos parar de falar a respeito. Acredito que datas como o dia da “Consciência Negra” são sim importantes, desde que estimulem as pessoas a uma reflexão profunda sobre o racismo, onde a problematização dos processos de construção das identidades é fundamental.
Infelizmente, o que se viu no Facebook nos últimos dias, na maioria das vezes, foi uma discussão rasa e simplista. Entre pensar criticamente sobre o tema e simplesmente clicar para “Compartilhar” o vídeo de Freeman, muitos optaram pelo clique. O que o astro de “Conduzindo Miss Daisy” acharia disso?

Texto originalmente publicado na Coluna do Nehac do Jornal Correio de Uberlândia no dia 30 de novembro de 2012.

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