quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A história de uma "pérola" do rock

Há quem diga que o bom e velho rock and roll está morto. E quando vejo um grupo como o Restart ser indicado ao MTV EMA 2011, eu mesmo me pergunto se o rock já não morreu. Se há alguns anos atrás tínhamos várias boas bandas de rock surgindo, nos últimos anos, porém, garimpar um grupo de roqueiros que mereça ser ouvido tem sido tarefa difícil. É verdade que a internet nos auxilia na tarefa de encontrar novas bandas, mas, cá entre nós, boa parte das grandes bandas de rock que temos hoje já surgiu há mais de dez ou quinze anos. As últimas grandes febres musicais desse início de século XXI foram provocadas, basicamente, por artistas ligados ao pop. Este século ainda não viu o surgimento de seus próprios Beatles, Rolling Stones, The Doors, Pink Floyd, Led Zeppelin, AC/DC, U2 etc.
Mas nem sempre foi assim. O período entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos 1990 foi marcado pelo surgimento de várias bandas de rock, e de boa qualidade. Bandas que chegaram ao estrelato, que fizeram um enorme sucesso, conquistaram a indústria, e o que é melhor: tudo isso sem abrir mão de autenticidade, identidade própria, atitude e letras bem escritas. Um bom exemplo disso pode ser visto no documentário Pearl Jam Twenty (2011, EUA), dirigido por Cameron Crowe. Como o próprio nome indica, o filme conta a história de uma das mais bem sucedidas bandas oriundas de Seattle, à época do grunge: o Pearl Jam.
O início do filme nos conta sobre o Mother Love Bone, banda que deu origem ao Pearl Jam. Vemos na tela a história da morte de Andrew Wood, vocalista do Mother Love Bone, que já é, logo de cara, uma das sequências mais emocionantes de todo o documentário (o depoimento de Chris Cornell sobre o impacto da morte de Wood é um dos mais tocantes de todo o filme). Seguindo a ordem cronológica dos fatos, Pearl Jam Twenty nos conta como os remanescentes do Mother Love Bone (Stone Gossard e Jeff Ament) se juntaram a Mike McCready, Dave Krusen e Eddie Vedder, para formar a banda.
A partir daí Cameron Crowe oferece ao espectador diversas sequências de shows do Pearl Jam ao longo das últimas duas décadas, imagens raras de arquivos e depoimentos antigos e recentes dos integrantes da banda. O documentário mostra as histórias da briga entre o Pearl Jam e a Ticketmaster, da “rixa” entre Vedder e Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, de como a banda atravessou os anos tendo que lidar com os interesses econômicos da indústria, interesses nem sempre compatíveis com os desejos artísticos do grupo, da tragédia no festival dinamarquês de Roskilde em 2000, quando nove pessoas morreram pisoteadas em um show da banda, e das trocas de bateristas (de Krusen ao atual Matt Cameron, passando por Matt Chamberlain, Dave Abbruzzese e Jack Irons).
O mérito de Pearl Jam Twenty é sua capacidade de agradar não só aos fãs da banda, mas também a todos os que gostam de um bom e velho rock and roll. De fato, o filme nos instiga a pensar sobre a trajetória desse estilo musical ao longo dos últimos anos. O Pearl Jam em seus anos iniciais é mostrado com todo o seu vigor e atitude frente ao modelo capitalista da indústria musical, especialmente por meio de fantásticas imagens de um jovem Eddie Vedder, em início de carreira, dando shows completamente bêbado e enlouquecido, escalando as estruturas metálicas dos palcos e se jogando na plateia. Ao longo do filme vemos o quão complexa é a história da banda que, apesar das críticas ao sistema, construiu sua trajetória dentro do sistema, mesclando uma identidade musical própria a um inquestionável bom desempenho comercial.
Também vemos na tela o processo natural de envelhecimento de uma banda de rock, Vedder não faz mais as loucuras do início da carreira. Aqui o filme Pearl Jam Twenty nos mostra que esse “envelhecimento” da banda veio acompanhado de transformações no seio da indústria fonográfica, com o pop ocupando cada vez mais um espaço maior na mídia, sendo emblemáticas, nesse sentido, as imagens dos Backstreet Boys e de Britney Spears estampadas em capas de revistas. Muita coisa mudou no mundo da música desde a época do surgimento do Pearl Jam até os dias atuais. Porém, ao fim do filme, vemos imagens recentes da banda e de seus shows, imagens que nos mostram que aquela boa e velha energia do rock ainda está viva, mesmo em um contexto histórico não muito favorável. Não, o rock ainda não morreu... Oh I, oh, I’m still alive!!!
Pearl Jam Twenty é um documentário belíssimo, muito bem montado e produzido. Por meio de vários depoimentos e de belas imagens, as histórias de uma grande banda de rock são contadas de maneira intensa e inteligente. Quanto à trilha sonora, esta dispensa comentários, uma vez que é composta por algumas das melhores canções do Pearl Jam, canções que mostram o porquê de a banda ser uma das “pérolas” que restaram da época do grunge. Só é lamentável o fato de esse documentário ter tido uma limitada exibição nos cinemas brasileiros. Posto isso, resta-nos aguardar o lançamento do filme em DVD, o que será um verdadeiro presente, tanto para os fãs que não puderam assistir ao documentário nos cinemas, quanto para os que puderam. Afinal de contas, Pearl Jam Twenty é um filme que os fãs de rock precisam ter em casa!