sábado, 6 de julho de 2013

“Foi mal”


“Errar é humano”, nos diz a sabedoria popular. De fato, é impossível para qualquer ser humano atingir a perfeição, não conseguimos acertar sempre, às vezes magoamos outras pessoas. “Perdoar é divino”, nos lembra a mesma sabedoria popular. Perdoar é um ato de amor, uma atitude nem sempre fácil de tomar, mas sempre útil para que possamos seguir em frente no dia a dia, sem mágoas.
Contudo, os problemas surgem quando o ato de perdoar passa a ser visto por muitos como uma obrigação em si mesmo: aquele seu amigo pisa na bola, vai até sua casa para te pedir desculpas e você tem que perdoá-lo. Se não o perdoar, será rotulado como uma pessoa rancorosa, sem Deus no coração. O perdão não pode ser uma obrigação, pois, se o for, as pessoas não deixarão de cometer os mesmos erros. “Não há nada de mau se eu fizer isso, se ele não gostar, eu vou lá, peço desculpas e ficará tudo bem de novo”, certamente pensam muitas pessoas.
A filósofa Hannah Arendt afirmou com razão no livro “A Condição Humana” que o perdão não é uma faculdade isolada, mas forma um par com outra faculdade: a de prometer e cumprir promessas. Segundo a autora, as ações humanas são irreversíveis e imprevisíveis, ou seja, é impossível voltar ao passado e desfazer o que foi feito, as nossas ações muitas vezes levam a consequências que somos incapazes de prever. Por isso, se alguém nos pede desculpas por uma falha, devemos perdoar, mas a pessoa que nos magoou deve prometer e cumprir uma promessa, ou seja, tem que se comprometer a mudar suas atitudes.
Infelizmente, para muitas pessoas é mais fácil dizer “foi mal” do que se comprometer a mudar o próprio comportamento. Há gente que até promete mudar, mas não muda. O perdão, por si só, não contribui para que melhoremos as nossas relações com as outras pessoas. Para se viver bem em sociedade, não basta pedir desculpas, é preciso estar disposto a aprender com os próprios erros e a transformar as próprias práticas. O perdão deve ser dado a quem o merece.
Ninguém é perfeito, em alguns momentos as pessoas vão nos magoar, assim como nós também vamos errar com os outros. Que tenhamos a capacidade de aprender cada vez mais a agir bem com os outros, só assim seremos merecedores do perdão que nos libertará das nossas falhas.

Texto originalmente publicado na Coluna do Nehac do Jornal Correio de Uberlândia no dia 09 de março de 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário