Um casal de vizinhos aqui de casa possui um pequeno filho, de nome Marcos Paulo. O garoto não tem ainda nem quatro anos completos, mas é muito esperto, frequenta muito a minha casa, torce pelo Vasco, não pára nenhum minuto, é super bonito, agitado e tem "muita energia", como ele mesmo diz. Um dia desses ele veio até minha casa e ficou assistindo ao jornal comigo. Quando passou uma reportagem sobre a ação do corpo de bombeiros em um acidente de trânsito, Marcos Paulo disse: "Os bombeiros salva as pessoas que machucou nas ruas". Achei a frase super bonitinha. Depois de uns minutos, o jornal passou uma reportagem sobre uma operação policial e, ao ver os policiais na TV, Marcos Paulo logo falou, assustado: "A polícia é bravo... ela prende os homens". Ao ouvir isso fiquei intrigado: o menino fala bem dos bombeiros, mas demonstra medo quando vê a Polícia...
Uns dias depois minha mãe foi ao mercado da rua de cima, acompanhada pelo Marcos Paulo que, aliás, gosta muito da minha mãe. Ao voltarem, minha mãe contou que uma viatura da Polícia passou pela rua, o que deixou o Marcos Paulo assustado. Mais uma vez me perguntei: por que esse menino tem tanto medo da Polícia?
Nas últimas semanas o país acompanhou o caso do desaparecimento e morte do menino Juan, de onze anos, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro. Mais recentemente, foi divulgada a conclusão da perícia de que o menino foi morto por quatro policiais militares. Nada mais revoltante, não? A Polícia que deveria proteger as pessoas é responsável pela morte de um menino de onze anos. Que Polícia é essa?
Ora, os nossos policiais são colocados sob uma pesada rotina de trabalho, com pouca estrutura e baixos salários, além de terem recebido, muitas vezes, uma precária formação. Tudo isso somado à intensa corrupção nas instituições policiais e à crescente violência nos centros urbanos resulta em uma Polícia cruel, preparada para enfrentar uma guerra contra a população e não para protegê-la. Os policiais abusam de sua autoridade, batem, agridem, humilham, matam. Como diria o pequeno Marcos Paulo, "a polícia é bravo", não protege ninguém, mas pratica atos violentos contra a população. Logicamente, é preciso não generalizar, uma vez que há sim bons policiais, contudo, esse recente caso do menino Juan deve fazer-nos refletir sobre qual papel a Polícia tem desempenhado em nossa sociedade.
Não sou inimigo da Polícia, nem seria louco para sê-lo, reconheço sua importância e sua necessidade, porém, a Polícia que temos hoje está longe de ser a ideal. Enquanto os indivíduos corruptos não forem, definitivamente, banidos das corporações e as condições de formação e de trabalho dos policiais não melhorarem, a nossa Polícia será apenas a Polícia que prende, mata e provoca medo em crianças pequenas. Precisamos de uma Polícia que nos proteja, não de uma que nos machuque.