segunda-feira, 9 de maio de 2011

Hipocrisia e Preconceito

Nas últimas semanas o debate sobre o preconceito no Brasil se intensificou consideravelmente. Das declarações polêmicas do deputado Jair Bolsonaro até o recente reconhecimento da união estável de casais homossexuais por parte do STF, muito se tem falado sobre discriminação racial e de orientação sexual. Como observador da realidade social acho extremamente válido que a sociedade esteja discutindo temas tão importantes como esses. Todavia, e há sempre um todavia, há algo errado em toda essa discussão, há uma hipocrisia que impera nos discursos supostamente defensores da diversidade e do respeito às diferenças.
Saia pelas ruas perguntando às pessoas se elas são racistas. Você possivelmente ouvirá uma sequência de sonoras respostas negativas, “Racista, eu? De jeito nenhum!”, dirá a maioria. Pergunte a essas mesmas pessoas se elas conhecem alguém que é racista. “Sim, conheço sim!”, muitos possivelmente responderão. Ninguém se confessa racista, mas todos conhecem alguém que é racista. Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que há algo errado aí: afinal de contas, onde estão os racistas?
No caso do reconhecimento, por parte do STF, da união estável de casais homossexuais, temos visto recentemente muitas manifestações de apoio, muitas afirmações de que “esse foi um passo importante na luta contra o preconceito”. Não quero diminuir aqui a importância dessa conquista do movimento gay, que já afirmou que também continuará lutando pela criminalização da homofobia, mas duvido que tal medida do STF vá acabar com o preconceito. O racismo, por exemplo, foi criminalizado no Brasil, mas apesar da existência de tal lei, o preconceito racial ainda existe no nosso país. Se alguém ainda duvida disso, peço que converse com algum(a) negro(a) para confirmar o que estou dizendo.
O problema parece estar no fato de que a sociedade brasileira quer resolver tudo por meio de leis, através do aparato jurídico, quando o correto seria investir em um sistema de educação que preparasse as pessoas para o convívio com o que lhes é diferente. As ciências humanas poderiam inclusive auxiliar muito essa educação para a diversidade. Dessa forma, o preconceito poderia ser combatido de forma mais consistente, deixando de simplesmente ser varrido para debaixo do tapete da hipocrisia.
Digo isso porque nossa sociedade tem sido bastante hipócrita em todos esses debates. Muitos dos que dizem concordar com o reconhecimento da união estável de casais homossexuais não aceitariam se um de seus filhos fosse gay. Muitos dos que dizem que não são racistas não aceitam pessoas de outras etnias em determinados espaços e ocasiões, preferem virar o rosto, evitar a aproximação. Neste sentido, é possível acusar o deputado Bolsonaro e todos os “religiosos” que se opuseram à medida do STF de serem preconceituosos, mas temos que reconhecer que hipócritas eles não são.
Não se trata de defender as pessoas preconceituosas, mas apenas de salientar o fato de que, muitas vezes, as mesmas pessoas que defendem o respeito à diversidade não conseguem conviver com opiniões diferentes das suas: o gay que levanta a bandeira da liberdade de orientação sexual, opõe-se fortemente à liberdade de opinião alheia, quer criminalizar o posicionamento do outro. Não há aí dois pesos e duas medidas? Os gays possuem sim o direito de serem gays, não devem ser barrados de lugares, não devem ser impedidos de exercerem determinados cargos nas empresas onde trabalham, devem ter o casamento gay permitido pela legislação, devem ter a liberdade de se beijarem em público sem serem constrangidos por isso.
Mas as pessoas que são contra o homossexualismo também devem ter o direito de se manifestarem. O que deve ser combatida é a violência física e psicológica muitas vezes praticada contra os gays, mas não o direito de dizer “Acho estranho o homossexualismo”. Não sejamos hipócritas, tudo o que nos é diferente gera estranhamento, eu mesmo acho esquisitas determinadas “cenas” que vejo pelas ruas, mas não saio por aí espancando homossexuais, tenho inclusive colegas de faculdade que são gays e procuro sempre respeitá-los, convivo com eles e até brinco com eles. O que não posso tolerar é o discurso politicamente correto do respeito às diferenças que, apesar de tentar defender a diversidade, acaba por provocar o efeito inverso que é exatamente a tentativa de homogeneizar a opinião pública, discriminando posturas diferentes.
Os gays têm o direito de serem gays, podendo exercer os direitos e deveres de qualquer cidadão brasileiro, mas isso não deve acabar com o direito à liberdade de opinião dos que são são contra o homossexualismo. O que se pede aqui é que as discussões sobre a diversidade cultural, étnica, de orientação sexual etc. sejam feitas através do diálogo aberto, sem violência, onde possamos aprender a melhor conviver com o que nos é diferente, sem que tenhamos que abdicar integralmente das nossas posturas individuais em nome de um pretenso país coeso, harmonioso e sem conflitos. Dessa forma, a hipocrisia poderia deixar de ser praticada, como diria aquela música do Skank: "Se você não gosta dele / Diga logo a verdade / Sem perder a cabeça / Sem perder a amizade..."

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